Projecto CFA em 2001
Comboio chega a Ndalatando
O comboio voltou a apitar em Ndalatando, na última segunda -feira, dia em que se realizou a viagem experimental entre o quilómetro trinta, em Viana, e a referida localidade. A população local, refira-se, não via o comboio desde 1992. Para o governador provincial do Kwanza-Norte, Henrique André Júnior, a entrada em circulação do comboio vai proporcionar à população melhores condições de vida e fazer com que a economia flua nos mais variados sectores.
O corredor de Luanda, acrescentou, é uma esperança na redução dos encargos com a transportação de produtos do campo para a cidade e vice-versa. O troço ferroviário Luanda/Ndalatando, construído entre os anos 1886/1889, tem 241 quilómetros. Do Zenza até Luinha 51,de Luinha a Ndalatando 55 e de Ndalatando a Malanje 180 quilómetros. O primeiro comboio apitou na cidade de Ndalatando em 1902.
Regresso da locomotiva anima população
A população de Ndalatando, província do Kwanza-Norte, recebeu com aplausos a chegada do comboio, durante a viagem de experiência e testagem dos trabalhos de reparação do Caminho- de-Ferro de Luanda.
Eram cerca de 16 horas, de segunda-feira, quando a máquina apitou nas imediações da estação ferroviária de Ndalatando, facto que alegrou os munícipes da urbe, entre adultos, jovens e crianças, que no momento correram ao local para apreciarem de perto a locomotiva.
Para muitos, trata-se de um sonho tornado realidade, a julgar pelos benefícios que este meio de transporte traz para a província no geral e em particular Ndalatando. Para outros, especialmente as crianças, era a primeira vez que viam um meio de transporte daquele tamanho e feitio. Domingas António, 39 anos, disse na ocasião que a chegada do comboio a surpreendeu de tal maneira que a fez lagrimar ao recordar o passado quando viajava de Ndalatando a Luanda e vice-versa.
“Lembro-me, dos anos 80, das viagens que fazia em companhia dos meus pais e tios. Agora, acho que as vou repetir, mas com os meus filhos”, disse.
Para Galiano Fernandes, de 41 anos, a entrada em circulação do comboio vai facilitar a circulação de pessoas e bens, de Luanda a Ndalatando e até Malanje, e agradece ao Governo pelo esforço empreendido na reabilitação dos caminhos-de-ferro. Por sua vez, o professor Anastácio Garcia, sublinhou que actualmente ainda se enfrentam problemas a nível de abastecimento, quer de bens essenciais à população quer de bens materiais para alimentar as obras no domínio do programa de reconstrução da província. Com a chegada do comboio a Ndalatando, disse, “nós teremos apenas a preocupação da mobilização de transporte para os municípios que não serão atingidos por esta via”.
Disse que a população, ao ver as obras, já manifestava a sua ansiedade em ver o comboio a voltar a apitar na cidade, depois de muitos anos.
Ligação Luanda-Malanje em Agosto
A ligação ferroviária entre as cidades de Luanda e de Malanje é feita em Agosto, segundo o director geral da vigésima companhia chinesa de reparação do Caminho- de-Ferro de Luanda, He Wen Jian, no final da viagem de experiência efectuada pela locomotiva proveniente da localidade da Baía (quilómetro 30, em Viana), província de Luanda, até Ndalatando, província do Kwanza- -Norte.
“Temos trabalhado forte e creio que dentro de pouco tempo é possível que este trecho esteja concluído e seja, portanto, feita a ligação Luanda/Malanje”. He Wen Jian considera positivo, o teste efectuado pela máquina, tendo constatado normalidade durante o percurso. Frisou que os trabalhos vão continuar com a montagem das linhas e construção de novas estações ao longo da via, bem como devastação da vegetação ao redor do curso ferroviário.
Segundo sublinhou, dificuldades concernentes à falta de material, precisamente cimento e aço, têm dominado o dia-a-dia dos operários.
Reabilitação e modernização dos caminhos-de-ferro em curso
O programa de Reabilitação e modernização dos Caminhos-de-ferro de Angola (CFA) prevê a restituição dos três principais troços ferroviários do país: Luanda, Benguela e Namibe.
Com início em 2001, o projecto, a ser executado num horizonte temporal de 11 anos, visa a recuperação das importantes infra-estruturas ferroviárias degradadas pela guerra, com vista a permitir a circulação de pessoas e bens dentro e fora do território nacional, assim como possibilitar e apoiar os países vizinhos, como a República Democrática do Congo, Zâmbia, Zimbabwe e Botswana.
Com uma extensão de aproximadamente dois mil 722 quilómetros, avaliado em cerca de quatro biliões de dólares norte-americanos, o projecto vai permitir criar postos de emprego para milhões de cidadãos angolanos e consiste igualmente na construção de mais uma linha-férrea e de outros segmentos transversais.
A primeira fase do programa de Reabilitação Expedita dos Caminhos-de-Ferro de Angola (CFA), orçada em 78 milhões de dólares, é concluída em Dezembro. Do plano, já foi feita a reabilitação de duzentos quilómetros, incluindo serviços de desminagem da linha-férrea do país e está em curso a reabilitação da linha ferroviária que liga a Estação do Bungo (Luanda) a Malanje, cujo reinício da circulação comercial, é restabelecida brevemente.
Com o apoio e investimento da China, a primeira fase consiste não só na reabilitação das infra-estruturas degradadas e destruídas pela guerra, mas a reparação de todas as linhas ferroviárias do país, assim como a conclusão e construção de novos eixos ferroviários, com vista à ligação de Angola com outros Estados vizinhos. O programa abrange ainda os três caminhos-de-ferro do país, nomeadamente de Benguela, com uma extensão de 1.336 quilómetros, que atravessa o centro de Angola até à costa Leste, de Luanda, com 479 Km, que vai até Malanje, passando por Ndalatando, e de Moçamedes (Namibe), com 907 Km, que liga a costa atlântica do Sul e Menongue (Kuando-Kubango).
A segunda fase, avaliada em 90 milhões de dólares e ligada à modernização dos CFA, consiste na reconstrução do troço ferroviário Luanda/Bungo/Baía e na reabilitação das linhas férreas do interior do Porto de Luanda.
A interligação das linhas existentes em Angola e a sua ligação com os caminhos-de-ferro dos Estados vizinhos fazem parte da terceira e quarta fases do Programa de Reabilitação e Desenvolvimento do Sistema Ferroviário Integrado de Angola.
No que respeita ao Caminho-de- Ferro de Luanda, que vai da estação do Bungo à província de Malanje, há dois projectos diferentes: o primeiro teve o seu início com a reabilitação do segmento urbano de Luanda, que sai do Bungo aos Musseques, e o segundo sai dos Musseques a Malanje.
Sobre o Caminho-de-Ferro de Moçamedes, uma vez operacional, vai influenciar a restauração da produção de ferro nas minas de Kassinga, município da Jamba, cujo processo paralisou há mais de 20 anos.
Quanto ao Caminho-de-Ferro de Benguela, está já projectada a construção, num horizonte de dois anos, de um novo segmento que entrar directamente na República da Zâmbia, já que actualmente a entrada para este país é feita através da República Democrática do Congo.
Projectos semelhantes ajudam o continente africano a criar fundos que permitam estimular o desenvolvimento de infra-estruturas, de forma a interligá-lo em toda a sua extensão.
Fonte: Jornal de Angola