Ética, valores e princípios
Nos dias que correm somos constantemente confrontados com notícias que nos relatam situações de indivíduos que, no exercício de funções públicas, políticas e/ou administrativas, tiveram ou têm comportamentos que, as autoridades policias consideram ilícitas, particularmente corrupção e afins.
A situação é grave, não só pelos casos que já são públicos e conhecemos mas, porque o que se sabe nestas situações é sempre uma pequena parte do que pode efectivamente estar a acontecer. Todavia, sendo a situação grave, ela não me surpreende.
Quando se começou a desmantelar o sector ferroviário, na década de 90 do século passado, já eu tinha mais de 20 anos de actividade, interrogava-me como é que de repente aprecia tanta gente nomeada para as administrações das dezenas de empresas que foram criadas na altura, as quais nunca tinha visto trabalhar no sector e que mais-valias traziam?
Rapidamente a duvida se dissipou e ficou claro que os méritos eram apenas político-partidários já que o objectivo era o de criar empregos bem remunerados para os boys “do arco da governação”.
Era o tempo do Small is Beautiful e da “Reengenharia de Processos” como fundamentação do que estava a acontecer. Como se vê foi só criatividade e iniciativa…
A década seguinte, a primeira deste século, alinhou pelo mesmo diapasão. O período da troika apenas acelerou a degradação da situação do sector ferroviário, que o governo actual ainda não conseguiu inverter.
Prevejo um verão muito, muito “quente”, e não serão nunca as medidas casuísticas e pontuais que se venham a tomar que vão resolver problemas que são profundamente estruturais.
O Estado se quiser desenvolver acções estruturantes para o sector tem de actuar, com determinação, em três eixos fundamentais: 1º no modelo organizacional e de governança; 2º na criação da rede de bitola europeia, e; 3º na contratação e qualificação de quadros técnicos e de operacionais.
Se se confirmarem os valores disponíveis para o investimento na ferrovia, para a próxima década, é quase criminoso e de lesa Pátria, não se tomarem em simultâneo medidas que lhe dêem dimensão e potenciem o desenvolvimento de uma massa crítica de competências distintivas necessárias para o sector, desenvolvendo as seguintes medidas, de acções concretas:
1ª Separação da REFER-Rede Ferroviária Nacional da EP-Estradas de Portugal;
2ª Reorganizar o sector criando uma entidade tipo SPGS (Caminhos de Ferro Portugueses) com quatro áreas: A) Operação (actual CP); B) Infra-estruturas (actual REFER); C) Oficinal (actual EMEF); e, D) Academia de Formação (integrando as áreas de formação actuais da CP e REFER;
3ª Estudar com a indústria a eventual criação de um cluster ferroviário, no País. (Esta ideia já teve alguma dinâmica na AICEP, quando era presidente o Dr. Basílio Horta, no final da década passada).
Será que ainda há espaço para que o bem comum prevaleça sobre os interesses individuais? Será que na sociedade portuguesa ainda há espaço para uma ética, valores e princípios que nos conduzam a comportamentos, acções e condutas adequadas e defensoras do bem comum?
Penso que sim. É preciso é criar os contextos e mudar as circunstâncias. Tenho profunda esperança que no próximo ciclo governamental, seja possível “fazer o que ainda não foi feito”, como diz homem do norte, que canta esta letra…
Em próximo texto irei fundamentar os três eixos de actuação e as três medidas de acções concretas, que acima refiro.
03, de Junho de 2019
Joaquim Polido