free web
stats

Metro Stultus do Mondego

Foi a 4 de Fevereiro que o próprio Primeiro-Ministro, António Costa, lançou o concurso para a empreitada de construção do novo Sistema de Mobilidade do Mondego, baseado na utilização de uma frota de Metro Bus pelo canal ferroviário do Ramal da Lousã.

Em primeiro lugar, é óbvio que o fez: há eleições para o Parlamento Europeu em Maio, e em Outubro são as legislativas. Ano de eleições sem apresentação de obras – por mais controversas que sejam – não seria a mesma coisa. E sim, esta é uma obra muito, muito controversa.

Estacao_Station_Coimbra-Parque_Coimbra_Ramal_de_LousaSeguindo o calendário, o Ramal da Lousã foi marcado para reconversão num Metro de superfície em 2009; logo em Janeiro de 2010 a linha foi encerrada, e seguindo o destino de todos os outros troços ferroviários encerrados “para obras” durante o consulado socrático, não mais reabriu. Desde então, a própria população local – relembro que o Ramal da Lousã liga Coimbra-B a Miranda do Corvo, Lousã e Serpins – pela voz do Movimento de Defesa do Ramal da Lousã (MDRL), tem repudiado esta solução.

Mas como dita a regra, tudo o que está mal pode invariavelmente piorar: a isso neste caso chama-se Metro Bus (lê-se “bus”, do latim omnibus, e não “bâss”, do inglês) do Mondego. Consiste na pavimentação dos 35 km do ramal entre Coimbra e Serpins, para a circulação de autocarros eléctricos. Muito “metro”, sem dúvida. Mas muito parvo. Pedro Marques, Ministro das Infraestruturas, identificou esta solução como a que melhor serve a mobilidade das populações, e que não é economicamente viável repor o serviço ferroviário.

O que é eminentemente falso. Numa estimativa rápida, repor a via-férrea no Ramal da Lousã custaria cerca de 12 Milhões de euros: só a preparação deste troço para o Metro Bus custa 25 Milhões, o dobro. O que dá margem de sobra para a implementação da sinalização, e quiçá
mesmo do enterramento da linha no centro de Coimbra, acabando com o secular estrangulamento deste Ramal, e permitindo comboios directos entre Coimbra-B e Serpins.

Depois, estima-se que o Metro Bus leve 69 minutos da Lousã a Coimbra, o que anteriormente uma automotora em fim de vida fazia em 51; com a via renovada e material circulante digno desse nome, o tempo para esse percurso seria de 41 minutos (quase meia hora menos que o Metro Bus). Ora se repor a linha é mais barato, e o comboio é mais rápido, em que realidade virtual é que o Metro Bus é a melhor solução para as populações deste ramal?!

Podem – e devem – colocar-se outras questões: uma UDD 450 (das últimas automotoras a servir neste ramal) tinha lotação para 370 passageiros; quantos Metro Bus são necessários para o equiparar? Sete, a uma lotação de 55 lugares cada. E quantas toneladas de matérias primas e produtos consegue transportar um Metro Bus, em relação a um comboio de mercadorias? Já agora, fica a nota: o custo de transporte da tonelada por km em transporte rodoviário chega a ser o quádruplo do verificado por ferrovia. Dá que pensar – ou não, pelos vistos.

É portanto nova glorificação de uma obra muito polida, muito “metro” e ecológica – e um comboio eléctrico não o é? – e totalmente desprovida de sentido. Fica portanto aqui o meu total apoio ao MDRL contra este despesismo a la carte, contra a solução mais óbvia e que melhor servirá toda esta região do Mondego: o comboio. Rápido, ecológico, cómodo, seguro; e afinal
não tão caro como nos tentam vender.

Daniel Conde
Vila Real, 4 de Fevereiro de 2019

Não escrevo segundo o Novo Acordo Ortográfico.