Maquinista com mais idade da CP está no limite das condições físicas e empresa não o substitui
Joaquim Reis Lopes é o maquinista da CP que, nos últimos anos, está a aguentar até mais tarde a vida desregrada pelos turnos e escalas desta profissão, mas começa a ter dificuldades até para subir às cabines. Está a seis meses de ficar sem a licença para condução de comboios – que caduca aos 65 anos – mas a empresa tem negado todas as propostas de rescisão amigável que apresentou nos últimos dois anos. O funcionário dos suburbanos do Barreiro, admite que a falta de reflexos própria da idade pode até pôr em causa a segurança dos passageiros, mas a CP desmente e salienta que todos os funcionários são submetidos a exames médicos de controlo periódicos e outros especiais.
Reis Lopes está apto para conduzir praticamente todas as máquinas, mas o cansaço físico dos 64 anos existe. É o próprio quem o afirma: “Já não tenho as condições dos meus colegas mais novos, sinto-me claramente cansado e não entendo porque é que a empresa não faz comigo o que fez com os outros”.
Os números oficiais da empresa revelam que este é um caso raro: só 2,9% dos maquinistas têm actualmente 60 ou mais anos e, segundo o i apurou junto de fontes da CP, Joaquim Reis Lopes é mesmo o mais velho a conduzir comboios no país.
“Por norma, a vida de um maquinista na CP acaba sempre antes dos 60 anos, devido ao grande desgaste”, revela o maquinista que diz não entender o porquê de a empresa estar a atrasar o seu afastamento destas funções. O universo de maquinistas da CP tem hoje em dia uma idade média de 46 anos e ao i fonte oficial da empresa justificou a situação deste maquinista afirmando: “No que reporta à política de rescisões por mútuo acordo, sempre que é possível obter um acordo deste tipo com um trabalhador, no âmbito da legislação aplicável, suas limitações e das necessidades de funcionamento da empresa, os trabalhadores são dispensados.”
O maquinista que entrou para a CP no início dos anos 80 está desde 2010 a pedir a rescisão amigável, mas a empresa nega com base na impossibilidade de substituição. O que diz não fazer sentido: “Isto é um caso único a nível nacional e gostava mesmo de saber de quem serão as responsabilidades se algum dia cometer algum erro, uma vez que eu já avisei”. Fontes ligadas à empresa também disseram ao i que a situação poderia ser resolvida com a deslocação de pessoal. “Há maquinistas interessados em vir para cá, tem é de se apostar na rotação”, disse a mesma fonte, lembrando que “há locais, como Coimbra, onde existe excesso de pessoas nestas funções”.
Para os médicos, “Dez-Reis” Lopes, como é conhecido entre os colegas, não tem qualquer limitação de saúde que o impeça de continuar, mas o maquinista não tem dúvidas: “Eu posso até não ter doenças, mas já não tenho as condições físicas necessárias e já dei conta disso diversas vezes”.
Fonte : Por Carlos Diogo Santos, publicado em 15 Abr 2013, no Jornal “I”