A Bitola Europeia
Na edição do dia 29 de Julho p.p., o jornal “Expresso” dava conta de um manifesto assinado por um conjunto de personalidades, entre as quais alguns ex-governantes, que alertavam os diferentes partidos políticos e órgãos do Estado, das consequências negativas para a economia portuguesa, pelo facto do País não ter já iniciado a construção de linhas plenamente interoperáveis para integrar a “Rede Ferroviária Europeia”.
O argumento sobre as consequências económicas para o País, a médio e longo prazo, parece-me óbvio e concordo com ele. Mas como diria certamente o Professor Orlando Ribeiro, se ainda estivesse connosco, há aqui também uma razão “Histórico-geográfica”. Como podemos ter uma integração na Europa, sem estarmos conectados e totalmente interoperáveis com a “Rede Ferroviária Europeia”?
A questão é, de facto, importante. Não creio, no entanto, que tenha algum resultado concreto, ou resposta positiva por parte dos órgãos do Estado (e não apenas do governo). O Estado perdeu toda a competência técnica no planeamento dos transportes em geral e as empresas ferroviárias estão em perda de massa crítica (isto é, competências técnicas específicas), há muito tempo e não têm, a meu ver, capacidade para responder, em tempo oportuno e de forma adequada, a qualquer incumbência desta natureza, por parte do governo. Sobram as empresas de consultoria estrangeiras…
O sector ferroviário português está, há pelo menos 20 anos, numa dinâmica de perda e a última machadada veio com a fusão da REFER com a EP que deu IP. O conhecimento específico que é necessário possuir, no sector, leva anos a ser consolidado e o País perdeu-o e vai levar décadas até que possa dispor de quadros técnicos suficientemente preparados para poderem pensar, com competência, em soluções técnicas adequadas às nossas necessidades.
A questão da bitola europeia é debatida, no País, há mais de 30 anos. Em Espanha há 25 anos que entrou em funcionamento a primeira linha de bitola europeia que liga Madrid a Sevilha e foram construídos muitos milhares de quilómetros de linhas, em bitola europeia, por toda a Espanha. O Senhor Presidente da República, que entretanto recebeu os representantes do grupo que assinou o manifesto, terá sugerido a realização de uma conferência para debater o tema, em Setembro. Esta semana, dias 13 e 14 a ADFERSIT vai realizar o seu 13º Congresso e, do programa conhecido, não vislumbro que o tema venha a ser tratado…
O sector ferroviário necessita muito e merece, uma reflexão global estruturada e estruturante, em que se defina o caminho que o País quer para o sector, para que as soluções casuísticas que têm sido tomadas e, a meu ver contribuíram para a actual situação de definhamento, não mais o possam ser por qualquer gestor ou político que, circunstancialmente, o administre ou tutele.
Setembro de 2017
Joaquim Polido