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Material circulante SOREFAME em tarde temática no CEC

UTA2001A sede do Clube de Entusiastas dos Caminhos de Ferro (CEC) em Braço de Prata acolheu, no dia 17 de Junho, mais um encontro temático dedicada à ferrovia.

Em destaque, na tarde de sábado, esteve a série de automotoras que despoletou a existência de uma indústria pesada de construção de material circulante made in Portugal: as automotoras eléctricas da série 2000 construídas para a CP pela SOREFAME a partir de 1956.

O investigador Paulo Alexandre, com um vasto acervo documental da UTE 2001, dirigiu a tarde temática em Braço de Prata, numa sessão pautada por muitas questões colocadas e em ameno diálogo.

Na intervenção contextualizou a construção de material circulante na história da SOREFAME. A produção das automotoras marcou a viragem no portefólio ferroviário da SOREFAME, antes a empresa só tinha construído carruagens para as colónias, referiu.

Além da base histórica a apresentação focou também a produção do protótipo UTE 2001 até à entrada ao serviço. Para acompanhar o processo  a exposição recorreu ao apoio de imagens de época e dossiers técnicos. O modelo, com sucessivas alterações, foi construído em 6 séries até 1984.

As imagens apresentadas documentaram várias fases de construção, desde o material em oficina até à entrega à CP. Ainda em em ambiente de fábrica foi possível entrar nos componentes usados na montagem. O facto de na montagem os veículos começarem a ser montados de cabeça para baixo foi um dos detalhes revelados pelas fotografias.

Um outro conjunto de imagens, com a unidade já finalizada, documentou os interiores. As imagens ilustraram a antiga “gaiola”, áreas de entrada, casas de banho, corredores de 1ª e 2ª classe e respectivos bancos, ou simulação com figurantes sentados em bancos a fazer de passageiros.

O visionamento da cabine de condução da UTE motivou um dos momentos altos da sessão. O associado CEC Augusto Sequeira voltou no tempo e fez a ponte para os elementos do habitáculo, e histórias do tempo em que serviu na série.

O maquinista, no percurso profissional, chegou a conduzir unidades 2000. A partir da fotografia enumerou e comparou o painel da 2001 saído de fábrica com os do tempo que que conduziu a série.

Com as explicações não tardou que a informação da imagem ampliasse a conversa que acabou por evoluir para partes mais técnicas ou pequenas histórias. Foi nesta altura que os presentes mais intervieram, abordou-se o homem morto, o sistema de limpa vidros automático que passava a manual numa situação de encravamento, o que era vulgar acontecer em dias com muita chuva, ou o sistema de imobilização do veículo quando parqueado, e a travagem na rotina do serviço de transporte de passageiros.

O ponto chegou a motivar uma conversa mais longa para se falar do modo de funcionamento das soluções de freio a ar comprimido e a vácuo.

A sessão permitiu ainda, numa parte mais técnica, aferir a leitura da resistência de materiais e estruturas da unidade em operação do projecto.

Performance, modo de funcionamento e disposição de sistemas. Detalhe mais técnicos que estimularam a engenharia presente. Na segunda parte o arquivo fotográfico mergulhou no material produzidas a partir de 1970 até 1984. Mais três séries. Lote de onde saiu material desenvolvido para a linha de Cascais.

A tarde temática promovida pelo Clube de Entusiastas dos Caminhos de Ferro, a um outro nível, mostrou que a antiga SOREFAME tem dimensão histórica de base nacional, alertando para o facto de estar esquecida num contexto museológico do Museu Nacional Ferroviário.

A produção de material circulante durante várias décadas para a ferrovia portuguesa. A tecnologia desenvolvida para acomodar os veículos à realidade portuguesa. A produção de locomotivas, carruagens e automotoras, para exportação. Ou a relação com as ex-colónias, foram algumas das áreas que introduzidas na sessão que podem servir esse contexto.

Resta saber se a omissão da SOREFAME no Museu Nacional Ferroviário será por desconhecimento ou por falta de capacidade técnica, da Fundação Museu Nacional Ferroviário.

A sessão ajudou ainda a compreender e identificar as diferenças entre as séries. Nomeadamente na relação do protótipo com as outras duas séries da primeira fase. As diferenças visíveis são a porta frontal, o canelado na zona das janelas laterais, as frentes, as portas a localização do furgão etc.

A UTE 2001 serviu de base para a construção de 6 séries, num total 171 unidades produzidas. O material ferroviário foi produzido entre 1956 e 1984.

As primeira fase, três séries, entre 1956 e 1967. Primeira série 2001 a 2025 – 1956/1957, segunda 2051 a 2074 – 1962/1963, e terceira 2081 a 2090 – 1966/1967. A segunda fase de produção, mais três séries, aconteceu entre 1970 e 1984. Quarta série 2101 a 2124 – 1970, quinta 2151 a 2168 – 1977, e sexta série 2201 a 2215 – 1984.