A Fava
Antes das eleições legislativas de 2015 produzi um conjunto de textos, publicados aqui na Webrails.tv, em que procurei exprimir algumas ideias concretas sobre a forma como o futuro governo, o que iria sair das eleições do final do ano, poderia e deveria olhar para o sector ferroviário. Dos governantes da altura e das suas administrações nas empresas ferroviárias, nada havia já esperar.
Fi-lo, na altura, por imperativo de consciência. Entendi e entendo que tendo nascido “dentro do sector” e trabalhado nele quase quarenta anos, não só no País, como em vários projectos, em diversos continentes, acumulei “um saber experiência feito” que devo, como cidadão, por ao dispor do País.
É evidente que eu sabia, e sei, que não é por ter escrito umas linhas, que poucos terão lido, que alguma coisa iria mudar. Mas, confesso que esperava que com as eleições alguma coisa pudesse, efectivamente, alterar-se. Não muito, porque o “bloco central de interesses” é muito acomodado e não faz grandes ondas, mas alguma coisa. A situação era tão inaceitável que certamente alguma coisa se teria de fazer. É, por isso, com enorme estupefacção e perplexidade, que passados 18 (dezoito) meses vejo a situação do sector ferroviário tal como estava, antes das eleições de há ano e meio, senão mesmo, pior.
Como uma parte significativa de portugueses tive, desde início, uma forte expectativa positiva na acção que este governo e, até agora, mantenho essa visão globalmente positiva. Áreas como as Finanças, os Negócios Estrangeiros, Trabalho e Segurança Social e a Reforma Administrativa têm tido, a meu ver, desempenhos de bom nível. A Economia, o Mar, a Saúde, a Educação e o Ensino Superior também tenho deles uma visão mais positiva que negativa. Infelizmente, no sector ferroviário verifico, não só de agora, mas de há já largos anos, que há, sucessivamente, clamorosos erros de casting.
A questão que coloco é simples: terá o actual governo algo de útil para fazer no sector ferroviário? Neste momento tenho as maiores dúvidas e a solução só pode passar por uma alteração profunda dos modelos de governação, desde o Ministério às Empresas. É tempo…
Desoladamente tem-nos calhado a Fava.
Maio de 2017
Joaquim Polido